terça-feira, 10 de julho de 2012

Conheça-te a ti mesmo




"Ó Deus, examina-me e conhece
 o meu coração!
 Prova-me e conhece
 os meus pensamentos.
 Vê-se há em mim algum pecado
 e guia-me pelo caminho eterno”
(Salmo 139, 23-14)

A cada momento estamos construindo a nossa história. Pois, a cada segundos e minutos somos impulsionados a fazer escolhas. E o que nós escolhermos é o que vai compor a nossa existência. E as nossas escolhas são feitas por dois motivos: porque somos livres e porque damos preferência a algo ou alguém.
Uma coisa é certa: as nossas escolhas determinam quem, ou o que, nós vamos ser. Assim, o que somos hoje é devido às escolhas que nós fizemos no passado. O que vamos ser no futuro é devido às escolhas que fazemos no presente. Nós somos o que somos por causa desse dinamismo.
Todavia, conhecer a nós mesmos é o primeiro passo para fazer uma escolha correta: ‘quem sou eu?’. Desde já afirmo: em Cristo somos filhos de Deus. Tudo bem que a nós nos foi dado um nome. Isso é apenas uma identificação social, e é importante termos um nome para sermos identificados. Mas, a pergunta vai alem. Não se prende em meros elementos externos. Está se referindo: ‘qual é a nossa essência?’.
A filosofia busca incessantemente responder tal indagação. Aristóteles dirá que a essência do homem é a racionalidade – “O homem é um ser racional”. Sartre, Schopenhauer dirá que a essência do homem é o sofrimento – “A vida do homem é sofrimento”.
Voltados, então, à visão do cristianismo percebemos, nitidamente, que de fato somos filhos e criaturas de Deus: “Sabemos que o Senhor só ele é Deus, Ele mesmo nos fez, e somos seus, nós somos seu povo e seu rebanho” (Sl 100,3). E mais: “Deus criou o ser humano à sua imagem o criou. Homem e mulher os criou” (Gn 1,27).
Entretanto, por vezes encontramo-nos sozinhos em meio a muitas pessoas. Sozinhos, desconsolados e sem importância. Um dos grandes desafios do autoconhecimento é o de “ser com Deus”. A explicação está no reconhecimento de Deus enquanto presença constante em nossas vidas. Ele não está, ele é conosco. O que ele deseja não é que apenas atendamos a porta. Ele precisa de um gesto maior de entrega: quer que confiemos a chave de nossos corações, quer que lhe confiemos nossa existência.
É preciso reconhecer que nós somos filhos (as) de Deus para fazermos as devidas escolhas em nossa vida. E nos conhecer é uma tarefa para a vida inteira. Se entrarmos nesse processo, poderemos evitar mais erros, pois tudo aquilo que passamos a ter conhecimento tendemos a cuidar melhor.
Quem tem uma intimidade com o Senhor se encontra, se conhece. A partir do momento que nós encontramos com o Senhor nós nos encontramos. Pois, o “Senhor nos examina e nos conhece, sabe quando nós sentamos e quando nós levantamos. Penetra de longe nossos pensamentos...” (Sl 139,1-2).
            Busca-se entender, através desse contexto, o mistério do sofrimento. Deslocados e confusos, perdemo-nos, socializados com a dor. Mas o propósito de Deus é justamente, o oposto. A dor deve fazer com que sejamos mais próximos Daquele que é Grandioso, mas que se faz tão Pequeno para que aconteça essa aproximação. Não até que consigamos que Ele nos ouça, mas até que consigamos ouvi-lo.
            E como Deus nos fala? A beleza do divino é que não há uma técnica, há diferentes experiências. Ele fala do jeito que nós conseguimos perceber. E para nos tornamos íntimos do Pai, é preciso que falemos com Ele também, por meio da oração. Deus é nosso melhor amigo, nosso fiel confidente, conhecedor das nossas fraquezas e cultivador de graças em nossas vidas. Ele mesmo nos diz em 2Cor 12,9 “Basta-te a minha força, pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente”. O que te faz sofrer hoje? Entregue e deixe Deus agir.
            Se buscarmos estar próximos de Deus, passaremos a olhar ao nosso redor de outra forma e será possível perceber como Ele é conosco. Seja num dia alegre, seja numa situação embaraçosa, seja nas pessoas com que mantemos convívio. Sim, Deus se faz presente no outro. Num olhar, numa palavra amiga, num abraço sincero. O outro pode nos curar, nos fazer melhor, caminhar conosco. E é por isso que Deus nos dá a condição humana do amor. Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. (Jo 15,12).
            Ao olharmos para nossas mãos, vemos um traço de nossa singularidade. Quando duas mãos diferentes se unem, é possível sentir níveis de aspereza e maciez e a forma de aperto que o outro tem a oferecer. Mas as mãos que oram podem até sentirem-se incomodadas em estarem juntas, talvez por estranharem o temperamento da outra, a forma de aperto, mas nem por isso se separam. Pelo menos, até que se encerre a oração.
            Assim também acontece conosco, com as diversidades de relacionamentos em que nos entregamos, mantemos vínculos, compartilhamos aprendizados. Nem sempre é fácil respeitar aquilo que o outro é, nem sempre é fácil continuar com as mãos juntas, nem sempre é fácil persistir em busca de ser melhor, de fazer do outro melhor. Mas quando a cruz vier, ame. Ame mais do que em qualquer outro momento. Quando a dor quiser invadir o seu coração, agradeça. Deus te chama a se reconhecer como filho Dele, Ele quer te mostrar que é do seu lado.
            Seja firme na amizade com Deus, mesmo que não seja possível entender como Ele nos conhece tão bem. Deus se faz presente sempre, ainda que não queiramos visualizar sua ação. O Senhor quer agir em nossa vida, quer mostrar que fazemos parte do projeto Dele, quer mostrar que podemos ser mais. Voltados para o céu, busquemos acertar o alvo e nos recordar de quem somos, por meio do amor do Pai.

Débora Raíssa
Marcos Vinícius

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