"Ó
Deus, examina-me e conhece
o meu coração!
Prova-me e conhece
os meus
pensamentos.
Vê-se há em mim algum pecado
e guia-me pelo caminho eterno”
(Salmo 139, 23-14)
A cada momento estamos
construindo a nossa história. Pois, a cada segundos e minutos somos
impulsionados a fazer escolhas. E o que nós escolhermos é o que vai compor a
nossa existência. E as nossas escolhas são feitas por dois motivos: porque
somos livres e porque damos preferência a algo ou alguém.
Uma coisa é certa: as
nossas escolhas determinam quem, ou o que, nós vamos ser. Assim, o que somos
hoje é devido às escolhas que nós fizemos no passado. O que vamos ser no futuro
é devido às escolhas que fazemos no presente. Nós somos o que somos por causa
desse dinamismo.
Todavia, conhecer a nós
mesmos é o primeiro passo para fazer uma escolha correta: ‘quem sou eu?’. Desde já afirmo: em Cristo somos filhos de Deus.
Tudo bem que a nós nos foi dado um nome. Isso é apenas uma identificação
social, e é importante termos um nome para sermos identificados. Mas, a
pergunta vai alem. Não se prende em meros elementos externos. Está se
referindo: ‘qual é a nossa essência?’.
A filosofia busca
incessantemente responder tal indagação. Aristóteles dirá que a essência do
homem é a racionalidade – “O homem é um
ser racional”. Sartre, Schopenhauer dirá que a essência do homem é o
sofrimento – “A vida do homem é
sofrimento”.
Voltados, então, à
visão do cristianismo percebemos, nitidamente, que de fato somos filhos e
criaturas de Deus: “Sabemos que o Senhor
só ele é Deus, Ele mesmo nos fez, e somos seus, nós somos seu povo e seu
rebanho” (Sl 100,3). E mais: “Deus
criou o ser humano à sua imagem o criou. Homem e mulher os criou” (Gn 1,27).
Entretanto, por vezes
encontramo-nos sozinhos em meio a muitas pessoas. Sozinhos, desconsolados e sem
importância. Um dos grandes desafios do autoconhecimento é o de “ser com Deus”.
A explicação está no reconhecimento de Deus enquanto presença constante em
nossas vidas. Ele não está, ele é conosco. O que ele deseja não é que
apenas atendamos a porta. Ele precisa de um gesto maior de entrega: quer que
confiemos a chave de nossos corações, quer que lhe confiemos nossa existência.
É preciso reconhecer
que nós somos filhos (as) de Deus para fazermos as devidas escolhas em nossa
vida. E nos conhecer é uma tarefa para a vida inteira. Se entrarmos nesse
processo, poderemos evitar mais erros, pois tudo aquilo que passamos a ter
conhecimento tendemos a cuidar melhor.
Quem tem uma intimidade
com o Senhor se encontra, se conhece. A partir do momento que nós encontramos
com o Senhor nós nos encontramos. Pois, o “Senhor
nos examina e nos conhece, sabe quando nós sentamos e quando nós levantamos.
Penetra de longe nossos pensamentos...” (Sl 139,1-2).
Busca-se
entender, através desse contexto, o mistério do sofrimento. Deslocados e
confusos, perdemo-nos, socializados com a dor. Mas o propósito de Deus é
justamente, o oposto. A dor deve fazer com que sejamos mais próximos Daquele
que é Grandioso, mas que se faz tão Pequeno para que aconteça essa aproximação.
Não até que consigamos que Ele nos ouça, mas até que consigamos ouvi-lo.
E
como Deus nos fala? A beleza do divino é que não há uma técnica, há diferentes
experiências. Ele fala do jeito que nós conseguimos perceber. E para nos
tornamos íntimos do Pai, é preciso que falemos com Ele também, por meio da
oração. Deus é nosso melhor amigo, nosso fiel confidente, conhecedor das nossas
fraquezas e cultivador de graças em nossas vidas. Ele mesmo nos diz em 2Cor 12,9
“Basta-te a minha força, pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente”.
O que te faz sofrer hoje? Entregue e deixe Deus agir.
Se
buscarmos estar próximos de Deus, passaremos a olhar ao nosso redor de outra forma
e será possível perceber como Ele é conosco. Seja num dia alegre, seja numa
situação embaraçosa, seja nas pessoas com que mantemos convívio. Sim, Deus se
faz presente no outro. Num olhar, numa palavra amiga, num abraço sincero. O outro
pode nos curar, nos fazer melhor, caminhar conosco. E é por isso que Deus nos
dá a condição humana do amor. “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.” (Jo 15,12).
Ao
olharmos para nossas mãos, vemos um traço de nossa singularidade. Quando duas
mãos diferentes se unem, é possível sentir níveis de aspereza e maciez e a
forma de aperto que o outro tem a oferecer. Mas as mãos que oram podem até
sentirem-se incomodadas em estarem juntas, talvez por estranharem o
temperamento da outra, a forma de aperto, mas nem por isso se separam. Pelo
menos, até que se encerre a oração.
Assim
também acontece conosco, com as diversidades de relacionamentos em que nos
entregamos, mantemos vínculos, compartilhamos aprendizados. Nem sempre é fácil
respeitar aquilo que o outro é, nem sempre é fácil continuar com as mãos
juntas, nem sempre é fácil persistir em busca de ser melhor, de fazer do outro
melhor. Mas quando a cruz vier, ame. Ame mais do que em qualquer outro momento.
Quando a dor quiser invadir o seu coração, agradeça. Deus te chama a se
reconhecer como filho Dele, Ele quer te mostrar que é do seu lado.
Seja
firme na amizade com Deus, mesmo que não seja possível entender como Ele nos
conhece tão bem. Deus se faz presente sempre, ainda que não queiramos
visualizar sua ação. O Senhor quer agir em nossa vida, quer mostrar que fazemos
parte do projeto Dele, quer mostrar que podemos ser mais. Voltados para o céu,
busquemos acertar o alvo e nos recordar de quem somos, por meio do amor do Pai.
Débora Raíssa
Marcos Vinícius
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